sexta-feira, 8 de março de 2019

Dia Internacional da Mulher: realidade ou hipocrisia?

As origens do Dia Internacional da Mulher não são, verdadeiramente, conhecidas.
Alguns atribuem a consagração deste dia em homenagem às 125 mulheres mortas, em 25 de Março de 1911, numa fábrica em Nova York.

Outros atribuem a origem deste dia a outros fenómenos de luta de mulheres em 1908, 1910 e outras datas posteriores.

O certo é que o ano de 1975 foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e o dia 8 de Março foi escolhido como o Dia Internacional da Mulher com o objectivo de recordar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres, um pouco por todo o Mundo.

Em bom rigor, as Mulheres, apesar das conquistas alcançadas, continuam a ter de lutar contra a discriminação salarial, o tempo dedicado às tarefas domésticas em desigualdade com os seus companheiros/maridos, o assédio sexual e moral na rua e no local de trabalho.
E, o pior de tudo, continuam a ter de lutar contra a violência dentro de portas, vinda daqueles que lhes juraram amor, fidelidade e auxílio. Continuam a ter de lutar pela integridade física e psicológica dos filhos que presenciam actos violentes.

E continuam a ter de lutar contra uma Justiça impávida e serena perante queixas de ameaças, coacção, ofensas verbais e/ou físicas. Contra um Governo alheado da verdadeira e real desigualdade entre homens e mulheres em pleno século XXI.

Minutos de silêncio? Distribuição de flores? Workshops de maquilhagem? Jantares que incluem um espectáculo de um homem musculado a despir-se?

Afinal, a comemoração do Dia Internacional da Mulher é uma forma de lembrar todas as Mulheres que lutaram pelo que temos hoje e de lutar pelo que ainda temos de conquistar ou transformou-se numa data em que se celebra a hipocrisia, já que nos restantes 364 dias do ano poucas são as mulheres que, realmente, lutam por uma verdadeira igualdade e poucos [ou nenhuns] são os homens que se lembram que são, também, as Mulheres que fazem avançar o Mundo e as respeitam e consideram por isso?

Dia Internacional da Mulher é todos os dias.
Todos os dias em que uma Mulher recebe um salário inferior ao de um homem pelo mesmo trabalho.
Todos os dias em que uma Mulher chega a casa, depois de ter ido levar e buscar os filhos à escola e de ter trabalhado, pelo menos, 8 horas mais 2/3 horas no trânsito e tem de fazer jantar, dar banho aos filhos, verificar a roupa e as mochilas para o dia a seguir, passar a camisa preferida do marido a ferro, arrumar a cozinha, pôr roupa a lavar para estender no dia seguinte antes de sair de casa e, finalmente, chegar à cama extenuada e ter de cumprir o dever de débito conjugal (leia-se, relação sexual com o companheiro ou marido que chegou a casa e ainda tinha de responder a uns e-mails ou, pior, tinha de ver o Benfica, o Sporting ou o Porto a disputar uma das muitas ligas de futebol).
Todos os dias em que uma Mulher é apelidada, na rua, por estranhos, de "boa", "gostosa", "jóia", "fazia-te, acontecia-te...".
Todos os dias em que uma Mulher é, descaradamente, assediada pelo patrão.
Todos os dias em que uma Mulher é despedida por estar grávida ou não é contratada por ter filhos.
Todos os dias em que uma Mulher é ofendida, verbal ou fisicamente, dentro do seu lar, o lugar que deveria ser o Santo Graal da Paz e do Amor.
Todos os dias em que uma Mulher é apedrejada até à morte, na praça pública, porque olhou para outro homem ou, simplesmente, porque se rebelou contra rituais da sua cultura que entende não serem dignos.
Todos os dias em que uma Mulher vê atingida a sua dignidade, como Mulher e pessoa humana, seja por quem for e de que forma for.

Apelo a que comemorem o Dia Internacional da Mulher combatendo todas as formas de discriminação de que as Mulheres, em Portugal e no Mundo, são alvo. E que ainda são muitas: as mulheres e as formas de discriminação.