terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Rui Rosinha - Bombeiro - Um testemunho real sobre o incêndio de Pedrogão Grande

Rui Rosinha, bombeiro, vítima do incêndio de Pedrógão Grande, tem por missão, neste momento, não deixar esquecer o que sucedeu. 

Em homenagem a este bombeiro, a todos os bombeiros do País, às vítimas e seus familiares, deixo este artigo de opinião. 


PORQUE NÃO SE PODE ESQUECER!


incêndio florestal de Pedrógão Grande deflagrou a 17 de Junho de 2017, no concelho de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, em Portugal, tendo alastrado aos concelhos vizinhos de Castanheira de PeraFigueiró dos VinhosAnsião (distrito de Leiria); ao concelho da Sertã (distrito de Castelo Branco); ao concelho de Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra). (in Wikipédia).

Foi declarado extinto a 24 de Junho de 2017. 

O incêndio mais mortífero de Portugal.

Em Outubro, repete-se o fenómeno em Oliveira do Hospital. 


Ainda hoje, mais de seis meses depois, não sabemos o que, verdadeiramente, sucedeu para que ocorresse tamanha tragédia. A denominada "fase Charlie", com reforço dos meios humanos e materiais de combate a incêndios, não tinha sido activada porque ainda não era o momento. A "fase Charlie" tem uma data de início prevista. Como se o fogo tivesse data anunciada para matar.


Não há, ainda, dados que permitam atribuir responsabilidades. Se é que existem responsabilidades a atribuir a alguém em concreto. Talvez a responsabilidade seja de todos nós: governantes e cidadãos. 

Porque todos temos o dever de preservar as nossas vidas e as dos outros, de preservar os nossos bens e a nossa floresta. 


Estou convicta, no entanto, que mesmo na "fase Charlie" este incêndio teria sido catastrófico. 

A 20 de Dezembro de 2017 tive o privilégio de assistir à entrevista de Rui Rosinha, bombeiro, vítima do incêndio de Pedrógão Grande. 


Uma entrevista emotiva mas, também, objectiva. De quem esteve rodeado pelas chamas, ficou queimado, esteve 2 meses e 3 semanas em coma induzido e foi sujeito a 14 cirurgias. 


Destaco algumas afirmações de quem, com conhecimento do que é o fogo e como actua, na sequência de um acidente de viação na A236/1 com um veículo civil, ficou apeado na estrada, sem equipamento de segurança, rodeado pelo fogo:


"Havia ventos ciclónicos nos locais de incêndio e muito fumo."

"Após o embate o carro dos bombeiros ficou totalmente imobilizado (...) e aí já víamos as chamas do nosso lado direito."

"Tínhamos ventos descendentes, que não é normal."

"Normalmente não uso telemóvel quando estou na frente de fogo mas telefonei para a minha mulher (...) achei que já não éramos capazes de sair dali."

"Um minuto naquela situação tão extrema parecem horas."

"Estávamos todos mais queimados pela ondas de calor. (...) Só para ter ideia os rails estavam incandescentes. (...). Muitas partículas a arder (incandescentes) entravam-nos pela boca, batiam-nos na cara e nas mãos."

"Todos os caminhos de fuga estavam cortados."

"A 1 metro uns dos outros não nos víamos, não usávamos a visão, falávamos uns para os outros para sabermos onde estavam."

"A ajuda chegou com a brevidade possível. Vieram ambulâncias, não carros de combate. Os colegas das ambulâncias vieram a arriscar muito."

"Chegar ao hospital, no meu caso, demorou 10 horas."

"No hospital da Prelada sou aspirado e TIRAM-ME cerca de TRÊS QUILOS DE CINZA dos pulmões."


"Não era possível combater aquilo. Foi um acontecimento raro."

"A extrema violência do vento propagava o incêndio em tudo o que era direcção. Normalmente, assistimos a uma frente de fogo ou a várias frentes de fogo que avançam numa direcção. Ali, tudo ardia ao mesmo tempo.

"O pouco oxigénio que se encontrava no ar ardia."

"Nas formações que fazemos já tínhamos ouvido falar. Mas era preciso que se dessem as condições perfeitas. Ali, havia as condições perfeitas."

"O fogo é uma coisa dinâmica. (...). O fogo não liga nenhuma a prazos e a datas."



Estamos no início de um novo Ano, a Primavera e o Verão irão chegar brevemente. O clima tem os seus próprios timings. O fogo não perdoa. É o momento de apostar na educação para a cidadania, na prevenção e no reforço dos meios de combate. Porque incêndios como os de 17/06 e 15/10 podem ocorrer em Abril, Maio ou Novembro. Basta que a Mãe Natureza assim o queira.



Vale a pena assistir a esta entrevista: Grande Entrevista de 20 Dez 2017 - RTP Play - RTP

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